Macaco


Durante o já tradicional duelo Minas x SESI a bicampeã mundial de vôlei Fabiana Claudino foi ofendida não uma, mas várias vezes por um torcedor que estava na arquibancada. Apesar da atleta não denunciar o individuo, torcedores em volta sentiram-se incomodados e prestaram queixa. Ontem, em entrevista ao Jornal Nacional o torcedor Jefferson Gonçalves de Oliveira disse que não quis ofender a atleta, mas que errou na escolha das palavras. Disse também que estava torcendo por ela e que chegou a chama-la de africana e queniana, mas não de preta ou de macaca. 
Jefferson, olhe bem para a mulher nesta foto, você vai ter que concordar comigo quando eu digo que ela é linda! E vale lembrar que essa foto foi tirada em um jogo sem produção nem maquiagem, ela sequer fez pose, não é a toa que ela também trabalha como modelo e não vamos nem falar do seu talento no esporte que lhe rendeu muitas conquistas profissionais e pessoais. Se essa mulher tem algum problema na aparência esse problema só pode ser a cor da sua pele. Agora me responda, desde quando ser negro é um problema para a estética de qualquer pessoa?
Aparentemente, desde sempre! Pois essa não foi a primeira vez que um negro foi comparado a um animal e rendeu alguma repercussão. E acreditem, existem pessoas que defendem atitudes como essas com um pretexto de que no calor da torcida, com o seu time perdendo vale tudo para chamar a atenção do esportista e fazer com que ele perca o foco na partida. 
Durante muito tempo na minha vida eu acreditei que brancos e negros fossem primeiramente seres humanos e que a cor da pele era o que menos importava, não era um critério que evidenciasse alguma diferença. Mas há tempos eu vejo o quão enganado eu estive, queria muito poder dizer que o racismo é algo exclusivo de pessoas extremamente idiotas que viviam longe de mim, mas não é isso que eu percebo andando nas ruas e analisando a nossa realidade. Muitas vezes acreditei em cartazes, pulseiras, folders e anúncios publicitários que diziam "Somos iguais", não somos! 
Não pela cor da pele, mas por fazermos desta característica tão simples tão simples que é determinada um gene uma forma de segregação social. Somos diferentes por insistirmos em ser diferentes, por acharmos graça em ver um negão contando piada de preto, por acharmos bonito um bebe pretinho em um comercial de fraldas, por termos a imagem de beleza associado ao esteriótipo do loiro de olhos azuis ou no máximo da morena clara, pelos vestibulares por cota, por acharmos estranho chegar a uma entrevista de emprego e vermos um chefe negro, por usarmos eufemismos como: De cor, Moreninho, Escurinho, como se ser negro fosse um problema,  por termos um histórico de mais de 500 anos de desigualdade e por brancos e negros conviverem há muito mais tempo do que isso e ainda não aceitarem a ideia de que são iguais, ao invés disso atravessaram gerações propagando uma diferença que nem deveria existir.
Luther King disse que nós aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos. Muito tempo já se passou desde que essa frase foi escrita e aqui estamos nós, retrocedendo todos os passos que ele e que outras personalidades históricas deram em busca da igualdade.     

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